sábado, 2 de abril de 2011

Interesse por ciência começa na escola

Não é incomum verificar nas escolas as matérias com maior índice de dificuldade por parte dos alunos: matemática, química, física. Esse é um sintoma da dificuldade dos alunos em lidar com temas relativos às ciências, principalmente aquelas ditas naturais. Segundo especialistas, uma série de problemas é responsável por afastar o interesse dos alunos pelos temas que no futuro poderiam ser abordados em pesquisas acadêmicas. Alternativas precisam ser pensadas para tentar incentivar as crianças e adolescentes a mudar a relação com temas ditos científicos.

A escola Alfredo Monteverde, ligada ao IINN, desenvolve um projeto de Educação Científica e estímulo ao estudo das ciências voltado para alunos da rede públicaA importância do ensino para a formação e o desenvolvimento da pesquisa científica e inovação tecnológica de um país será um dos temas debatidos na próxima edição do projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte – uma realização da TRIBUNA DO NORTE, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Fiern, Fecomércio/RN, RG Salamanca Capital e Governo do Estado, com patrocínio da Petrobras, Assembléia Legislativa e Cosern. O evento está em seu quarto ano de realização e o tema escolhido foi Inovação e Tecnologia. O Seminário será realizado no próximo dia 11 de abril, no auditório da reitoria da UFRN, a partir das 8h. Os interessados podem se inscrever gratuitamente pelos telefones 4006-6120 e 4006.6121. As vagas são limitadas.

É impossível pensar um país com um bom nível de desenvolvimento tecnológico e inovação sem relacionar com um sistema educacional eficiente. O sistema brasileiro, como se sabe, tem vários problemas. No que diz respeito ao público, há questões estruturais, como escolas sucateadas, professores mal remunerados quando não simplesmente ausentes, entre outros. Se nas escolas privadas essas questões estão mais ausentes, os alunos sofrem com outros problemas, nesse caso mais metodológicos e de grade curricular. O que é quase consenso é a necessidade de procurar alternativas para modificar a relação com o conhecimento.

De acordo com o professor da UFRN, André Ferrer, todos esses problemas são responsáveis por provocar um afastamento dos alunos dessas matérias. “Não é um problema somente do ensino das ciências naturais, de matérias como física, química e biologia. Problemas como a formação do professor, má remuneração, falta de equipamentos, etc, dificultam o ensino”, explica André Ferrer. E complementa: “Mesmo assim, não há uma fórmula mágica ou uma metodologia mágica. Existem algumas alternativas, mas é preciso tempo para o próprio professor conseguir aplicá-las”.

Para se ter uma idéia, um dos mais recentes projetos da UFRN – a Escola de Ciência e Tecnologia – viu os alunos recém-chegados do Ensino Médio com dificuldades em passar por disciplinas básicas de matemática e química, por exemplo. Isso resulta em porcentagens de reprovação considerados altos. De acordo com o reitor da UFRN, Ivonildo Rêgo, os índices de reprovação nessas disciplinas são maiores que em outras em todo o mundo e isso já era esperado. “Já esperávamos por isso. Muitos alunos terminam a formação básica sem entender física, química, matemática, etc. O que tentamos fazer é tentar recuperar esse aluno, com reforço, com monitoria, entre outras alternativas”, explica Ivonildo Rego.

Além de ter dificuldades de aprender o que está sendo ensinado e ter maus resultados em provas, os alunos acabam tendo uma visão distorcida, se distanciando desses temas. Ao invés de tratar o que está sendo ensinado como algo útil e ter alegria em estudar, as crianças e adolescentes se desinteressam do assunto e recorrem ao chamado “ensino memorístico” ou simplesmente “decoreba”. “Embora esteja superado em termos teóricos, esse modelo de ensino de professor copiando no quadro e aluno anotando ainda é regra na prática de muitas escolas”, diz André Ferrer, acrescentando que em muitos casos o professor também não dispõe dos elementos necessários para apresentar o conteúdo de forma diferenciada. “Muitas vezes o conteúdo é abstrato e o professor não tem datashow, acesso à internet, etc”, encerra.

Educação científica para alunos da rede pública

Diante desse panorama, existem iniciativas pontuais em toda a rede que tentam superar ou diminuir os efeitos negativos da estruturação muitas vezes equivocada do sistema de ensino no Brasil. Em Natal, o trabalho desenvolvido pelas escolas vinculadas a Associação Alberto Santos Dummont de Apoio à Pesquisa (AASDAP), fundação responsável por administrar projetos ligados ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal, é considerado exemplar. Trata-se de um projeto financiado com recursos públicos e privados que dá “educação científica” a crianças provenientes da rede pública de ensino.

Na Escola Alfredo Monteverde, gerida pela AASDAP, as crianças têm aulas durante dois turnos da semana, como complemento aos horários do ensino regular. Não se trata de um reforço, mas de um projeto de “educação científica”, onde os alunos aprendem a trabalhar com o método científico e têm noções de cidadania. Os professores trabalham conteúdos de ciência, arte e cidadania através de projetos semestrais, onde os alunos elaboram hipóteses e constroem experimentos. O método é participativo, muito distante da forma distanciada do modelo tradicional. Ao invés de copiar e repetir, os alunos são estimulados a pensar.

Além disso, projetos vinculados ao Ministério da Ciência e Tecnologia fazem a diferença em escolas públicas tradicionais. Um desses projetos, financiados pelo CNPq, é o Pibid, programa de iniciação à docência. Nesse caso, os alunos dos cursos de licenciatura, prestes a se transformarem em professores, fazem “estágios” em escolas públicas e trabalham junto dos professores regulares. A Escola Estadual Berilo Wanderley, localizada no bairro de Neópolis, recebeu o projeto no ano passado e teve bons resultados. “Com a ajuda dos alunos de licenciatura, pudemos preparar experiências, realizar aulas de campo, uma série de atividades impensáveis para um professor regular fazer sozinho, por conta da falta de tempo”, explica o professor de Física, Raimundo Nonato. “Construímos um laboratório e mostramos na prática como alguns conceitos da Física funcionam. Isso tudo auxiliou bastante no aprendizado”, encerra.

Bate-papo - » Raimundo Nonato professor de Física

Em que o projeto PIBID auxiliou no ensino da Física?

Com um professor auxiliar, em fase de estágio, pudemos planejar aulas práticas, visitas de campo, além de que construímos um laboratório, ainda improvisado. É muito mais fácil para o aluno quando ele consegue visualizar o assunto na prática e por isso tivemos bons resultados.

Que resultados positivos foram observados?

Além de perceber uma maior apreensão do conteúdo, tivemos alunos bem colocados em olimpíadas de física e matemática. Alunos da escola chegaram até a terceira fase da Olimpíada, o que nunca tinha acontecido no Berilo Wanderley.

Isso aumenta a autoestima deles?

Sim, inclusive uma coisa que queremos fazer é trazer esses ex-alunos com boas colocações em vestibulares e olimpíadas para conversar com os atuais alunos. Isso porque eles sofrem com a baixa autoestima, muitos não acreditam que são capazes. Esse contato pode melhorar isso.

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